Em 1947, moradores da Rua Treze de Maio protestavam contra montagem de curtume
Agradecimentos à Magaly Lisboa (Acervo Municipal de Piraju)
Em janeiro de 2015, numa tarde de sábado, um grupo concentrado na cabeceira da Avenida Dr. Domingos Theodoro Gallo coletou mil assinaturas pela manutenção das duas sibipirunas e da palmeira localizadas no canteiro central. Na época, as obras do malfadado “calçadão” intencionavam transformar as árvores em lenha e asfaltar o pequeno espaço onde os últimos vegetais da avenida resistem.
A mobilização popular fez o assunto repercutir na imprensa do município e da região: até mesmo o jornal A Comarca, de Avaré, noticiou a ação dos pirajuenses em prol das árvores da avenida.
Antes e depois de 2015, o rio Paranapanema também rendeu diversos manifestos, modestos ou grandiosos, como o abaixo-assinado de 2017 que reuniu 2.587 assinaturas em sua defesa, assinaturas que contavam com nome completo, endereço e todos os documentos do signatário.
Figuras mais antigas relembram a mobilização contra a instalação da fábrica de celulose da Braskraft nos anos 70, movimento que culminou, em 1978, na publicação da Carta do Vale do Paranapanema, assinada por prefeitos de 40 cidades da região pedindo a preservação dos recursos naturais e contra a referida fábrica. Caso tivesse saído do papel, a indústria atiraria diariamente 20 toneladas de resíduos químicos nas águas da represa de Jurumirim (FONTE: Gesiel Júnior In: Semanário Oficial da Estância Turística de Avaré. 21/04/2012).
CONTRA CURTUME – No início do ano de 1947, preocupados com a qualidade da água do ribeirão e das minas, 80 moradores da Rua Treze de Maio realizaram um abaixo-assinado contra a instalação de um curtume na referida via. Antonio Brenha Junior e Anibal Cesário Garcia apresentaram à redação do jornal O Comércio de Piraju uma cópia do protesto, que foi encaminhado ao prefeito.
Dizia o documento: “Os abaixo assinados, por esta em recurso de protesto à montagem de um curtume na entrada da rua 13 de Maio (próximo a habitações desde 100 metros) desta cidade, com escoadouro para o ribeirão, que passa pelos fundos de todos os quintais dessa rua, onde em muitos dos mesmos há minas de água muito perto do ribeirão, minas estas que em muitas ocasiões, na falta de água da rede encanada, que insuficientemente abastece a cidade, vêm as referidas minas sendo usadas por parte da população de Piraju. Com a montagem do curtume, consta com planta já aprovada pelo chefe do Serviço Sanitário do Estado de São Paulo, é muito possível a contaminação destas minas com impurezas trazidas pelos detritos do curtume, nas margens do ribeirão, que vai ser escoadouro das fossas do curtume. Além deste principal inconveniente para os recorrentes, o referido ribeirão passa margeando toda a rua 13 de Maio e pastos, onde animais não têm outra água para beber a não ser a do ribeirão, que com escoadouro do curtume, fica inutilizada para este fim; também vem o mau cheiro peculiar dos curtumes. O presente recurso é para receber o parecer do cidadão Prefeito Municipal de Piraju e depois ser encaminhado ao chefe do Serviço Sanitário em São Paulo, de quem espera providência para não montagem do curtume no local visado.”
As edições seguintes do semanário não trazem informações sobre os desdobramentos do caso, mas acredita-se que a movimentação foi bem sucedida. Mais de 70 anos após o levante dos moradores da Rua Treze de Maio em defesa das águas do ribeirão e das minas, os movimentos ambientais locais somam algumas vitórias, porém, incontáveis desafios nas mais diversas áreas.



