
Na ativa desde 1993, o Grupo pirajuense de Capoeira Raça Negra se mantém firme no propósito de ensinar a arte para adultos e crianças. Os mestres e professores atuam de forma voluntária e reúnem, duas vezes por semana, cerca de 65 alunos no Centro de Lazer Luiz Ferreira de Oliveira. A idade dos capoeiristas varia de 3 a 64 anos.
Adriano Costa da Fonseca, contramestre Esqueleto, pratica capoeira há mais de 20 anos e dá aulas desde 2000. Ele aprendeu a modalidade com o professor André Macaco, nos anos 90, e já dá aulas para alguns filhos de ex-alunos. Apesar do trabalho contínuo de longa data, a capoeira é pouco valorizada em Piraju. O poder público, por exemplo, cede somente a área do Centro de Lazer para os ensaios; os demais custos com uniformes, materiais, instrumentos musicais etc., ficam a cargo dos próprios capoeiristas envolvidos no projeto.
O professor Agenor “Gel”, membro do Raça Negra desde 93, já chegou a confeccionar berimbaus para os alunos, arte que aprendeu com o professor Macaco. Além de ser uma expressão cultural que compreende arte-marcial e esporte, a capoeira também abrange a cultura popular, a dança e a música – os alunos têm contato com berimbaus, atabaques, pandeiros, agogôs, reco-recos, maculelês e com toda uma cultura de resistência afro-brasileira.
História
Esqueleto conta que a arte da capoeira nasceu como luta, como defesa do negro cativo escravizado e passou por várias etapas no país: chegou a ser proibida pelo código penal de 1890 por mais de 50 anos, sendo posteriormente liberada como arte marginal e chegado às escolas e academias.
Hoje, a capoeira é o segundo esporte mais praticado no Brasil, perdendo somente para o futebol. É também o maior divulgador de língua portuguesa fora do Brasil, presente em mais de 150 países.
Por ser uma arte de resistência, foi mal compreendida e capoeiristas, muitas vezes, sofreram preconceito. Hoje, contudo, a questão do preconceito diminuiu bastante, pois o cinema e as novelas começaram a retratar melhor o universo da capoeira e o público em geral tomou conhecimento desse patrimônio imaterial brasileiro.
O professor Gel diz que o grupo Raça Negra é sempre bem recebido e respeitado em Piraju.
Transformando vidas
Gel e Esqueleto destacam o poder transformador de vidas que a capoeira tem. Nos anos de Raça Negra, ambos já viram o grupo resgatando diversas pessoas do mundo das drogas. Outras descobrem habilidades e talentos que nem sabiam que tinham: dançar, virar cambalhota, dar piruetas, tocar um instrumento musical.
Esqueleto define a capoeira como um divisor em sua vida. Professor de educação física, ele talvez não tivesse se motivado a estudar e fazer faculdade se não fosse o contato com a arte na juventude.
Para Gel, afastar uma criança da droga e educá-la para crescer enquanto ser humano é o maior incentivo para o trabalho voluntário.



