Estabelecimento (hoje escombros) foi inaugurado em 5 de abril de 1926
A edição do dia 11 de abril de 1926 do jornal “O Piraju” noticiou a inauguração do “Piraju Hotel”, num texto típico do jornalismo da primeira metade do século 20, que misturava elementos do noticiário com o colunismo social de ares bajuladores.
Repleto de adjetivos e de elogios à alta sociedade local, ilustrada no texto pelos nomes de Ataliba Leonel, Moreira Porto e Domingos Gallo, o texto d’O Piraju não tem título – exceto pelo termo “noticiário” no cabeçalho – e nem fotos, mas descreveu ricamente o interior do empreendimento recém-inaugurado e destacou sua modernidade – tinha até mesinhas individuais, diferente dos hotéis antigos que mantinham a grande mesa de uso comum.
A narrativa do jornal ainda mencionava o desejo do gerente Vasconcellos de transformar o hotel num ponto de encontro para lazer da alta sociedade pirajuense, com “dancings-diuers” aos domingos, “orchestra” e “danças modernas” no restaurante.
Sinônimo de refinamento e de orgulho para os pirajuenses, as paredes que presenciaram boa parte dos acontecimentos da fase áurea da cidade de Piraju foram derrubadas em 2016, deixando o cenário urbano local mais pobre e a nossa história carente de um importante elemento de seu passado.
Confira a íntegra da matéria d’O Piraju:
NOTICIÁRIO
Realizou-se no dia 5 do corrente a cerimônia inaugural deste novo estabelecimento que veio preencher uma sensível lacuna de que se ressentia essa cidade.
Em prédio construído especialmente para um hotel confortável e moderno, dotado de todos os requisitos hygienicos (sic) e estheticos (sic) o “Piraju Hotel” nada tem a invejar a muitos outros de 1ª ordem da Paulicéia que somente o poderão superar quanto ao luxo.
O prédio é de dois andares, de construção sóbria e elegante, com luz direta e arejamento em todos os aposentos.
O salão de refeições é bastante amplo rodeado por janelas que dão para dois passadiços abrindo um para a rua e outro para a área interna, sendo mobiliado com mesinhas para as refeições, abolindo-se assim, o anticuado (sic) e incommodo (sic) costume da mesa em comum (sic) ainda em uso pelo interior do nosso Estado. Banheiros em profusão, água corrente em todos os quartos, buffet, fumoir, bar, sala de visitas, optima (sic) iluminação, enfim, tudo mais que deve ter um bom hotel.
A cerimônia inaugural contou de bençam (sic) do prédio pelo Rvdmo. Padre Euclides Carneiro, seguindo à noite animado baile oferecido pelos proprietários à sociedade pirajuense.
Estiveram representados nas festas inauguraes (sic) todos os elementos da alta sociedade local entre os quais notamos: Dr. Ataliba Leonel, dr. Alfredo Roos, dr. Domingos Gallo e exma. família, dr. Moreira Porto e exma. sra., cel A. J. Ferreira Braga, dr. Carlos Monteiro de Barros, dr. Passos Junior, dr. Fontes de Rezende, senhoritas Noemia Leonel, Maria José Leonel e innumeras (sic) outras pessoas de destaque em nosso meio cujos nomes nos escaparam.
A gerência do hotel está entregue ao sr. Juvenal Vasconcellos, fino conhecedor de seu “métier”. O dedicado gerente, seguindo o exemplo dos hotéis modernos, pensa em oferecer (sic) à sociedade pirajuense “dancings-diuers” todos os domingos às 19 horas, podendo assim as exmas. famílias se reunirem no “Piraju Hotel” onde a par de uma excelente (sic) refeição a preços fixos ainda poderão se deleitar com uma excelente (sic) orchestra e com danças modernas.
É de esperar-se que a ideia seja bem acolhida estabelecendo-se na nossa sociedade elegante este hábito agradável e de bom gosto.
Ao proprietário do hotel auguramos grandes prosperidades.
FONTE: Jornal O PIRAJU, 11 de abril de 1926
Vista da lateral do Piraju Hotel, antes da demolição