Nos anos 70, blitz nas praças de Piraju leva 12 casais para o xilindró

Jovens namorados foram acusados pela prática de ato obsceno em lugar público

Agradecimentos à Magali Lisboa, do Acervo Municipal de Piraju, pela sugestão de pauta

Um dos caminhos da Praça Ataliba Leonel

Na madrugada de domingo, 5 de outubro de 1975, policiais militares de Piraju fizeram uma blitz pelas praças da cidade e prenderam 12 casais que, segundo os boletins da época, “infringiam o artigo 233 do CP” (prática de ato obsceno em lugar público).

Três casais foram pegos na Brasilinha às 3 da manhã e, duas horas depois, outros nove pares foram flagrados na Praça Ataliba Leonel. Todos foram liberados após pagamento de fiança. Os rapazes envolvidos eram balconistas, lavradores, pedreiros, mecânicos, estudantes, um motorista e um desenhista, cujas idades variavam de 19 a 23 anos (um deles era mais velho, de 29). Dentre as meninas, quatro eram menores de idade.

As prisões e solturas dos jovens foram assinadas pelo delegado Orlando Miranda Ferreira.

Os boletins carecem de informações detalhadas sobre o que levou esses jovens a serem presos. Os livros antigos da polícia, que se encontram hoje no acervo municipal, não deixam explícito se os casais estavam apenas “dando uns amassos” ou se agiram de modo que pudesse configurar crime nos dias de hoje.

Segundo lembranças de um leitor, a blitz nas praças à caça de pares românticos foi fruto de uma ação do juiz Tintori, um sujeito duro e conservador que fechou a zona de prostituição, impediu menores de 14 anos de participar de desfiles de escolas de samba e prometeu acabar com o carnaval de Piraju. A escola de samba Juventude Alegre, inclusive, foi criada pela molecada que não pôde sair nos carnavais de 1973 e 74.

Consta que um trechinho da Praça Matriz era conhecido décadas atrás como “caminho do pecado”, onde, sob a sombra das árvores e aproveitando o escuro da noite, os pares protagonizavam cenas quentes para a época.

A Praça Ataliba Leonel, nos anos 70 e 80, era considerada o “centro nervoso” da cidade, onde tudo acontecia: despedidas, flertes, altos papos e até mesmo algumas afrontas ao artigo 233 do CP. Tudo indica que, se fosse hoje, o caso dos jovens apaixonados pegos na blitz passaria batido e jamais terminaria na delegacia, mas os tempos eram outros…

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