Vice-prefeito anuncia pré-candidatura e defende “oxigenação” de poderes Executivo e Legislativo
Por ora, dois nomes estão certos no páreo para as eleições: José Maria Costa e o seu vice, Fabiano Rueda Amorim.
Delegado de polícia desde 2003, Amorim (39), se desligou da profissão em 2017 para comandar as pastas de Esportes e Turismo de Piraju. Em abril de 2018, ele foi exonerado e perdeu seu espaço na administração. Em entrevista, o vice-prefeito (e pré-candidato ao pleito do ano que vem) fala sobre seu passado e seu futuro na política:
1- O que te levou a abandonar sua almejada pré-candidatura a prefeito em 2016 e se tornar vice de José Maria Costa?
Por conta da minha falta de experiência, por nunca ter sido político, achei que não tinha maturidade política pra disputar o cargo. Também não consegui articular um grupo pra me deixar um candidato competitivo na época. Aceitei ser vice, pois era uma forma de me introduzir na política de modo ameno. Isso fortaleceu o nosso grupo. O prefeito prometeu me apoiar em 2020, mas ele quebrou esse acordo para tentar a reeleição. Então ocorreu aquele processo de cassação e ZM pediu que eu tentasse manipular o voto dos vereadores do meu partido (José Carlos Nunes e João Luciano) a favor dele. Eu falei que não ia fazer isso. Então, quando ele se safou da cassação, me exonerou.
2- Na última semana de setembro, o jornal Debate, de Santa Cruz do Rio Pardo, publicou um editorial intitulado “Piraju em chamas”, destacando os fatos da CPI do circular. No entanto, rádios e jornais locais mantiveram silêncio sobre o andamento do caso durante todo o processo. No dia 7 de outubro, a CPI foi arquivada. Considerando isso tudo, qual sua visão geral sobre o cenário político pirajuense?
Esses fatos são lamentáveis. Desde 1988 estamos numa democracia. Os três poderes têm de ser harmônicos, mas independentes, e a gente não vê isso em Piraju. Vemos aqui uma séria e nítida interferência do poder Executivo no Legislativo e na imprensa também – isso é inadmissível. Temos diversos vereadores que são funcionários públicos, que ou foram beneficiados ou receberam represálias para debandarem pro lado do prefeito, pra fazer o que o prefeito quer, causando essa situação vexatória que foi o arquivamento da CPI do circular, desrespeitando a constituição federal.
3- Pelo menos nos últimos três mandatos pirajuenses, os vices acabam rompendo com os prefeitos. Ocorreu com Pipoca x Jair; Jair x Denilton e com ZM x você. Comente algo sobre essa “tradição” de Piraju.
De fato isso é uma coincidência. Acho que os políticos não levam pra vida pública os princípios da vida particular: lealdade, cumplicidade, amizade, interesse público… e por isso existe muita traição e deslealdade entre eles. Isso resulta em briga, em discórdia. No nosso caso específico, foi uma traição: ZM prometeu me apoiar na campanha do ano que vem e não o fez. Combinamos também dele me dar espaço na administração pra que eu desenvolvesse um trabalho e em 2020 eu me tornasse um candidato competitivo – ele me deu o cargo, mas não me deu espaço, no exercício da função ele me boicotava. José Maria Costa não foi leal comigo da maneira que meu grupo foi leal com ele. Andei a cidade toda pedindo voto pra ele (e pra mim), angariei 80% dos recursos da campanha. Ele foi uma pessoa ingrata que descartou o nosso grupo. Ele sabia que na toada em que eu estava, eu certamente seria um candidato muito forte pra concorrer com ele.
4- Houve quem avaliasse que o êxito da chapa se devia ao fato de você ser o vice. Você concorda com isso?
Acho que nossa junção foi necessária para uma vitória. Ele sozinho não ganharia e eu sozinho também não: ele não teria um grupo articulado e eu não teria a maturidade… creio que o meu grupo contribuiu com a vitória, trazendo a força jovem, a esperança de renovação. Minha participação foi decisiva para a vitória. Sem nosso grupo, com certeza absoluta ZM não seria prefeito.
5- Um eventual prefeito Fabiano Amorim trataria como a questão ambiental da cidade?
A minha preocupação com o meio ambiente vai ser uma bandeira muito forte. Sou totalmente contra a instalação de novas usinas hidrelétricas e sou a favor da exploração sustentável das riquezas naturais sem degradar o que está preservado. Defendo a evolução turística respeitando o meio ambiente. Piraju é bela por natureza e isso não pode se perder. Um prefeito Fabiano levaria ao mais alto patamar a bandeira ecológica da cidade.
6- Dizem que Piraju é uma “cidade de velhos”. Você tinha 36 anos em 2016 e conheceu os bastidores da política com uma galera bastante velha (não só de idade, como também nas tradições). Você sente que foi desmerecido em algum momento nesse meio pela sua pouca idade?
Esse rótulo de cidade de velho aposentado não é bem verdadeiro: 50% dos eleitores aqui tem de 16 a 44 anos – quer dizer que não somos uma cidade de idosos. Acontece que boa parte da nossa juventude não fica aqui porque não tem oportunidade de trabalho. Sobre a convivência com a “velha guarda” da política, eu sofri muito preconceito pelo fato da minha pouca idade. Praticamente da noite pro dia, sem vínculo político, eu me tornei vice e isso incomodou muitos políticos antigos. Até acredito a velha guarda teve influência nessa discórdia entre mim e ZM, já que ela, até hoje, não consegue me aceitar. Uma eventual vitória minha significaria a aposentadoria desses políticos antigos, pois Piraju foi judiada por muitos anos por esse pessoal.
Na maior parte do tempo, Piraju foi governada por políticos, seja no Executivo ou no Legislativo, com mentalidade retrógrada e por isso a cidade não evoluiu. Piraju precisa de pessoas jovens, de mentes que oxigenem esse meio, de pessoas com coragem. Nosso papel é trazer alternativas que eles, velhos, não trouxeram. Existe uma “dor de cotovelo” dos antigos para com a ala jovem e vemos isso até na CPI do circular: políticos jovens tendo dificuldades nos trabalhos causadas pelos seus colegas antigos.

