Théo Motta
(Agradecimentos à Magali Lisboa, do Acervo Municipal de Piraju, pela foto do Clube Nove de Julho)
Num tempo já bem distante, quando o Viagra ainda não havia sido inventado, alguma alma maldosa espalhou o boato que chá de casca de ipê roxo era o elixir mágico para sessentões e setentões preocupados com sua já escassa performance sexual. Por conta disso, dezenas de árvores da espécie (e na ausência delas sobrava até para as demais cores, branco e amarelo) foram literalmente descascadas nas noites e madrugadas do Tijuco.
Ninguém nunca comentou sobre os efeitos, mas o assunto chegou às mesas de jogo no andar térreo do Clube Nove de Julho, onde alguns amigos se reuniam semanalmente para jogar seu carteado. Segundo o relator desse episódio, dos tantos ali ocorridos, o dentista Ronaldo Dércole, de saudosa memória, estavam lá várias personalidades e figurinhas carimbadas da cidade, todas já em outro plano: o Zé Domingues, o Esaldivar, o Richardão, o Zezé Motta, o Luiz Batista, o Zé Machado, o Mussa Maluly (tio Mussa), o Bibbo José, o Miro Blanco, o Milton Spínola, Ovidinho Tucunduva e Dr. Oswaldo Carvalho.
Alguém iniciou a provocação: “Já tomei mais de 100 litros do tal chá de casca de ipê roxo e nada. Acho que isso é conversa pra boi dormir”.
Zezé Motta acrescentou: “meu finado bisavô João Pedro fazia uma gemada com leite de cabra, seis ovos de pata, um copo de vinho do Porto e uma lasca de canela. Parece que funcionava, ele morreu com quase 100 anos” – mentiu.
“Devia dar uma caganeira lascada” – exclamou o velho Mussa, grande gozador.
Dr. José Domingues resolveu apartear o papo: “temos aqui na mesa um médico renomado que pode nos tirar essa dúvida – e aí, Dr. Oswaldo?” – provocou.
“E aí o que, meu filho?” – respondeu o médico, indiferente ao assunto e sem desviar o olhar, concentrado no jogo de cartas.
“O senhor tem alguma receita para curar as nossas aflições?”
“Tenho sim. Para levantar um pau velho e cansado, nada melhor que uma mãozinha de moça. Ah, meu filho, se isso não funcionar, não há milagre possível. A propósito, bati com as dez!” – finalizou o Oswaldo, vencendo o jogo e encerrando o assunto.



