Era assim, parafraseando Mark Twain, que José Silvestre aconselhava seus amigos a levarem a vida. E foi assim que ele viveu…

José da Cruz Silvestre nasceu em 18 de dezembro de 1937. Foi criado pelos avós Antônio e Maria, ele marceneiro; ela parteira, imigrantes portugueses que viviam em Ipaussu.
Conciliava a escola com o trabalho num armazém de secos e molhados. Entregava as compras de bicicleta e, posteriormente, arranjou um segundo emprego – no cinema – para ter a oportunidade de assistir a alguns filmes.
Quando criança, tirou no realejo a figura de uma pessoa carregando um fardo muito pesado. Na ocasião, sua avó comentou que ele carregaria um “fardo pesado” durante toda a vida.
Entrou na Companhia Luz e Força Santa Cruz como faxineiro e aos poucos foi conquistando cargos mais elevados. A vontade de estudar fez com que Ipaussu ficasse pequena para ele. Em 1958, pediu aos superiores que o transferissem para uma cidade onde pudesse concluir os estudos e foi assim que José Silvestre chegou em Piraju.
Fez o ginásio e o colégio comercial. Formou-se em contabilidade. Casou-se com Neyde dos Reis Leonel e teve três filhos: Neide Maria, Virgínia e Eduardo.
Prestou o vestibular para Direito sem pretensões e foi aprovado. Graduou-se com mérito, passou na OAB com nota 10 e o diretor da faculdade pediu para conhecê-lo.
Já advogado, dedicou-se à filantropia, com carinho especial para a Guarda Mirim Constantino Leman, tendo atuado com zelo para a consolidação da instituição em nossa cidade. Nunca abandonou os valores aprendidos com os avós e priorizava sempre a justiça e a equidade.
Foi assessor jurídico da Câmara Municipal em 2012, e teve um papel de destaque no episódio em que alguns vereadores tentaram derrubar as leis que defendiam o Rio Paranapanema. Segundo ele, o projeto era inconstitucional por não levar em conta o parecer dos Conselhos Municipais de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural e também o então Conselho Gestor do Parque do Dourado. Resistiu às pressões e ameaças para aprovar a derrubada das leis e, como não cedeu, acabou demitido.
Nem idade avançada, nem a visão comprometida e nem mesmo o linfoma abalavam a disposição de Seu José para o trabalho. Contornava os problemas de visão com uma lupa ou então lia pelo computador, onde dava “zoom” nas palavras.
Seu Zé era um apaixonado pelo Panema. Dias antes do agravamento de seu estado de saúde, topou na rua com um amigo jornalista e disse que estava acompanhando com otimismo toda a movimentação dos ambientalistas pela defesa do rio. Revelou que percebia, ‘desta vez’, maior interesse e engajamento da comunidade pirajuense na causa. Contou que conhecia e percorrera, palmo a palmo, toda a extensão do Panema no território do município, e convidou o amigo para um bate-papo em sua casa sobre o rio, ‘qualquer dia desses’. Infelizmente, não houve tempo.
Faleceu dia 1º de julho de 2017, deixando Piraju mais triste e, de certa forma, órfã do grande paizão que foi para todos que o conheceram.

Piraju, agosto de 2017




