Texto: Lana Oliveira Corcovia para o projeto OS DESENTREVISTADOS
Hamilton Serrat de Souza, 49, nasceu em São Paulo e veio para Piraju com dez anos de idade. Desde criança gostava de construir (brincadeiras arquitetônicas), ler e ouvir músicas. Aos 16 voltou para São Paulo, onde ficou por dois meses, rumo a Curitiba. Conhece o Mato Grosso, Paraná e Minas Gerais, e também o exterior, pois já viveu temporadas na Nova Zelândia e Inglaterra, sempre trabalhando como carpinteiro ou outros tipos de trabalhos manuais.
Em Piraju, durante a infância, aprendeu a tocar violão com sua professora Maria Luiza e, unindo o gosto por construção e o gosto por música, desenvolveu o costume de fazer reparos em seus próprios instrumentos.
Nas suas andanças pelo mundo, Hamilton fez vários amigos, como ele mesmo diz, a coisa que mais tem é amigos espalhados pelo planeta. Além das amizades, Hamilton também adquiriu muito conhecimento com as viagens realizadas e desenvolveu habilidades. Leitura, trato e convivência com todo tipo de gente, habilidades manuais, idiomas, música, lida com a terra, escrita…
Em 1995, Hamilton participou de um trabalho com alguns estrangeiros e indígenas brasileiros no Mato Grosso. O grupo conseguiu um lote de terra, onde trabalhou manualmente e construiu uma sede, povoando o local com ocas. A experiência do trabalho em conjunto com pessoas de diferentes culturas e pensamentos é benéfica para todas as partes, ensinando o respeito e a tolerância.
Hamilton alega que não passa tantos choques culturais em países diferentes, já que consegue respeitar e seguir a cultura de qualquer povo. Porém, claro, relata alguns constrangimentos passados por conta de pequenas características da diferença de cultura. Diz que o fato de o indivíduo estudar sobre a cultura e a linguagem de um país diferente não o impede de um ou outro deslize. Certa vez, sozinho em Londres, entrou no bairro Brixton, (local que agora virou atração, mas já sofreu racismo e desleixo por parte do governo). Lá, recebeu olhares estranhos e notou que não era bem-vindo pelos moradores. Voltou sem receber qualquer ameaça formal, mas o pavor durante os olhares de julgamento o deixou desconfortável.
Em 2003, quando trabalhava num jornal no estado do Mato Grosso, realizou uma matéria com um ‘’luthier’’ – confeccionador de instrumentos musicais. Como não tinha muito conhecimento técnico nem ferramentas o suficiente, pediu ao entrevistado, também chamado Hamilton, que o ensinasse a produzir um bandolim (ironicamente, instrumento que nenhum dos dois sabia exatamente como construir). O trabalho em parceria foi sucesso e fez com que Hamilton questionasse o porquê estava trabalhando num jornal e cursando biologia, já que a luthieria era bem mais atraente e unia todas suas aptidões.
Atualmente, mora em um sítio onde constrói ainda instrumentos e vive de sua venda. Semanalmente dirige ao comércio de Piraju para comprar o necessário e ‘’ficar por dentro’’ do que tem acontecido na cidade.

