Naomi Oliveira Corcovia/ Théo Motta

 

Esse é um dos causos que revelam as entranhas do Tijuco. Ocorreu no final dos anos 50, antes dessa Estância Turística ser Estância Turística. Contudo, a veracidade de suas informações fica a cargo do leitor, que tem todo o direito de acreditar ou não.

De olhos verdes, cintura fina e formosura hollywoodiana, Dona Marcela foi traída pelo próprio sutiã, um falso moralista que afrouxou em plena Festa do Dia da Justiça no Clube Nove de Julho e deixou cair mensagem do amante marcando um encontro sabe-se lá para quando e onde. Tomado pela fúria, o esposo, promotor, meteu a dona no automóvel e guiou-a até o cemitério, onde lhe deu uma surra e lhe deixou nua em pelo para compensar, inutilmente, sua humilhação de homem traído.

Nesta festa estava toda a alta sociedade local da época: juiz, delegado, promotores, advogados, seus familiares, moças de família, funcionários de cartórios e até mesmo o padre da paróquia, um malandro adepto das jogatinas e torneios de baralho que movimentavam as “nights” da Piraju dos anos dourados.

Quando o promotor enraivecido apanhou sua esposa pelo braço criando um escândalo de grandes proporções no Clube Nove de Julho, todos os cavalheiros da festa deixaram suas esposas para trás e seguiram em disparada no encalço do casal para tentar impedir o que eles acreditavam que seria um crime brutal (mas na verdade queriam mesmo era prestar solidariedade à bela senhora esperando, é claro, uma recompensa futura).

Pelada, após a agressão, Marcela buscou ajuda na casa de uma amiga que vivia na Avenida da Saudade e tinha três ou quatro filhos metidos a galãs de quermesse (“comelões”). Há quem acredite que os rapazes tentaram prestar algum consolo a ela, mas esses detalhes jamais foram confirmados pela Central Oficial de Fofocas do Tijuco.

No dia seguinte, o marido exonerou-se do cargo e foi embora da cidade, deixando Dona Marcela com os filhos, a vergonha e a maledicência (o tradicional tripé aturado pelo gênero feminino desde que o mundo é mundo). O amante, figurão da época, sumiu da cidade por uns tempos até a poeira abaixar. Marcela, depois, sumiu também.

Décadas e décadas mais tarde, quando ninguém mais se lembrava do escândalo, encontraram o promotor em Santos, cheio de amor para dar. Ele estava acompanhado, justamente por quem?????

– Com ela, que lhe enfeitou a cabeça!

A paixão acabou pesando mais que os chifres. E tem traição pior que essa?