Em janeiro de 1946, o colunista Bartolomeu de A. Silva, do jornal “O Comércio de Piraju”, publicou o artigo “Reclamação Inútil”, no qual denunciava o descaso dos figurões políticos da época em relação ao desenvolvimento de Timburi (leia o artigo a seguir).
Em 14 de abril do mesmo ano, Bartolomeu publicou o artigo “Conversa mole pra boi dormir”, criticando a agente de correios daquela localidade. Segundo o colunista, que também atuava como serventuário de justiça, o atendimento era tão ruim que a população preferia depositar suas correspondências em Piraju, o que fazia diminuírem as receitas de Timburi.
Não somente os problemas timburienses alimentavam as colunas de Bartô. O colunista, somente em 1946, escreveu em defesa das florestas brasileiras, em defesa de medidas assistencialistas para a população pobre, clamando pelo combate ao analfabetismo e reivindicando a valorização dos trabalhadores rurais. Os escritos do colunista fizeram com que ele ganhasse a alcunha de “comunista” e de ser “amigo do Luiz Carlos Prestes”, famoso comunista brasileiro.
Reclamação Inútil
Só sabe quantos minutos tem uma hora quem já sofreu uma dor de dente à noite, e só sabe quanto é desagradável viver numa ilha como um Robinson Crusoé quem mora em Timburi, mormente quem já esteve em contato com o conforto das boas cidades.
Timburi está condenado a andar na rabeira dos outros distritos dos municípios paulistas. Seremos o último povo do Estado de São Paulo a ter direito ao progresso do século da luz. A culpa, talvez, seja do povo de Timburi, porque, se os empregados da Light conseguiram do Governo Federal a revogação de um decreto, por que sete mil habitantes de uma zona rural onde todos trabalham pelo engrandecimento de São Paulo e do Brasil, não conseguem aquilo a que todos têm direito? Por que retrogradamos?
Repito uma coisa já muito falada e comentada: perdemos telefone, perdemos uma linha de bonde que chegou até Sarutaiá; estamos ameaçados de perdermos a linha de Jardineira, que liga Piraju a Ipaussu, já perdemos metade, a correspondência pois não recebemos mais. A última mala foi a de trinta de dezembro passado. O momento, porém, não comporta atos dessa natureza. Que há de ser de nós amanhã, se assim vão sendo levados os que nos poderiam engrandecer?
Saiamos, quanto antes, do emparedamento ignominioso. Basta de chafurda! Nós aqui também somos átomos do povo brasileiro. A natureza fez tudo a favor de Timburi; os homens, porém, pouco ou nada fizeram.
Tornou-se uma ideia fixa no meu espírito a necessidade de acudir este recanto abandonado. A minha voz é muito fraca, não tem eco para chegar até os ouvidos dos maiorais do governo, mas peço aos ilustres dirigentes desta comarca que meditem um pouco no nosso caso.
Parece existir no que está acontecendo contra este bom, humilde e laborioso povo um maléfico ato de vingança!
Aqui fica o meu protesto, apesar de ser inútil reclamar.
Bartolomeu de A. Silva
6 de janeiro de 1946
AGRADECIMENTOS AOS DEPARTAMENTOS DE TURISMO E CULTURA DE TIMBURI PELAS IMAGENS ANTIGAS DA CIDADE QUE ILUSTRAM ESSE TEXTO 🙂
Capa do jornal “O Comércio de Piraju”Timburi de outrora