“Lenda” foi contada a Constantino Leman por Diogo Goulart e publicada em livro
Agradecimentos a Magali Lisboa (Acervo Municipal) e a João Otávio (Biblioteca)
A história que parafraseamos a seguir foi relatada a Constantino Leman por Diogo Goulart, residente em Tejupá, na época das pesquisas para o livro “Piraju Ontem e Hoje”. De acordo com Constantino, o caso ocorreu “há 70 anos atrás”. Considerando que o livro foi publicado em 1959, a narrativa provavelmente ocorreu por volta de 1889.
Domingos Faustino de Souza foi um dos doadores de terras para a fundação do Patrimônio de São Sebastião. Era lavrador no atual bairro Neblina, onde tinha um engenho. No livro do alistamento para o serviço militar, já em 1876, aparece como inspetor de quarteirão e juiz de paz.
Não constam no Acervo Municipal de Piraju as datas de nascimento e falecimento desse fundador, pois os óbitos começaram a ser registrados no município somente em 1904.
A MORTE DO FUNDADOR, relato de Diogo Goulart a Constantino Leman, em 1959:
Por volta de 1889, Domingos Faustino de Souza morava no bairro da Neblina. Era proprietário de engenho e alambique e na Vila (Piraju), era freguês da Casa Vutura, casa comercial pertencente a Benedito da Silveira Camargo.
No dia do sepultamento de sua esposa, Domingos Faustino apareceu no armazém e questionou se Dito Vutura (como era conhecido o pai de Quinzinho Camargo) aceitava em devolução o par de botinas que comprara há alguns dias – ainda sem uso.
Ao questionar o motivo da devolução, Benedito da Silveira Camargo ouviu: “é que daqui a oito dias passarei por aqui como ela passou hoje”.
O caso se espalhou pela cidade e, no dia marcado, familiares e amigos reuniram-se na residência de Domingos Faustino, que estava calmo e aparentando boa saúde, sem qualquer indisposição. Em dado momento, como que tendo tomado uma resolução, o viúvo levantou da cadeira da sala, onde encontrava-se reunido por seus parentes, e rumou para o quarto. Notando que os presentes estavam dispostos a acompanha-lo, pediu-lhes que aguardassem um momento.
Percorridos alguns instantes e sem que ninguém ali tenha entrado, todos ouviram a conversa de duas vozes distintas. Logo, porém, tudo se aquietou.
Impacientes, ansiosos, talvez até receosos, dirigiram-se todos para o quarto – Domingos Faustino de Souza sustentou a palavra – estava morto.
A esta história, acrescenta Constantino, mencionando um pormenor ouvido do senhor Delmiro Fernandes: no dia do enterro da esposa, Domingos adquirira também na loja de José Antônio de Freitas um terno preto.
Deve-se acrescentar, também, que a morte foi natural e calma, constatando-se que positivamente não houve suicídio.
Foto: Antiga “Casa Vutura”, na Rua Treze de Maio: segunda casa à direita. Hoje pertence a Alonso Amorim
Imagem cedida pelo Acervo Municipal de Piraju

