Mortes no Bar Permanente e o furto de um burro cor de pelo de rato em 1926
Raras eram as ocasiões em que o jornal O Piraju publicava matérias extensas – salvo quando reproduzia algum artigo de outro veículo – pois, grosso modo, os jornais do início do século 20 nos interiores brasileiros eram adeptos das notas curtas, um formato que faz sucesso até hoje em Piraju.
Uma reportagem policial sem título do antigo semanário narra, num estilo mais próximo da (má) literatura que do jornalismo, a morte de três homens por conta de uma briga por motivos fúteis em frente ao “Bar Permanente”, localizado na Rua Major Mariano. A qualidade da narrativa não é das melhores e deixa muitas lacunas sobre a idade, ocupação e ligação entre os personagens do crime.
Reproduzimos a seguir a coluna “Pela Polícia” d’O Piraju de 30 de março de 1926, matéria e notinhas. Corrigimos parte dos erros de pontuação e ortografia da matéria, mas mantivemos a grafia de algumas palavras para manter a sensação de estarmos lendo um texto de mais de 90 anos.
PELA POLÍCIA
Assassinatos
O cadastro policial deste município acaba de registrar mais um desses crimes que pelo modo que são praticados não deixam de horrorizar as pessoas que as presenciam. Eis o que se deu nessa cidade:
Há questão de dois meses mais ou menos, Osório de Souza Maciel, proprietário de um estabelecimento comercial denominado Bar Permanente, situado à Rua Major Mariano desta cidade, vendeu a Pedro Corrêa, José Pinheiro e a Rita Pinheiro, esta, mãe dos dois últimos acima referidos, que organizaram, então, uma sociedade para explorar o mesmo Bar Permanente.
Aconteceu que dias após a organização da sociedade, começaram a aparecer desconfianças entre os sócios e d’ahi (sic) as rixas e as discussões até que na tarde do dia 20 do corrente, teve um fim as desharmonias (sic) existentes.
Seriam 15 horas, daquele dia, quando, à porta do Bar Permanente, chegava e estacionava um auto pertencente a João Corrêa e guiado por este, trazendo como passageiro o sr. Euclydes de Oliveira e um menor de 10 annos (sic), do qual logo se approximaram (sic), Pedro Corrêa, Pedro Pinheiro e José Pinheiro.
Como José Pinheiro se entretinha em mexer no “mascott” (sic) do auto, foi advertido por João Corrêa com esta phrase (sic): “não mexa ahi, isso não é da sogra”, originando-se disto o conflicto (sic).
Palavras ditas e replicadas por todos, começou a lucta (sic). Pedro Pinheiro, que trazia à cinta um revólver, delle saccando (sic), alveja João Corrêa em pleno peito, o qual, apenas poude (sic) sahir (sic) do auto para cahir (sic) a alguns passos de distância e morrer; Pedro Corrêa, neste momento, é alvejado por três balas do revólver de Pedro Pinheiro, e, mesmo ferido, Corrêa lucta (sic) com seu aggressor (sic), até que saccando (sic) de um punhal, crava-o no peito de Pinheiro, que cambaleando vem cahir (sic) a dois metros de distância de João Corrêa, sua primeira victima (sic).
Preso em flagrante, Pedro Corrêa foi immediatamente (sic) transportado para o hospital local, onde foram baldados todos os recursos da sciencia (sic) médica para salva-lo, pois, três dias depois falleceu (sic) em consequência dos ferimentos gravíssimos que havia recebido.
Assim, por tão pouca coisa, extinguiram-se três vidas, duas em plena juventude e uma de um rapaz moço ainda, que deixou mulher e filhos.
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– Na noite de 13 para 14, do corrente mez (sic), na estrada que de Timbury vae (sic) a fazenda “Palmital”, d’aquele districto (sic), fora encontrado morto, a tiros, Antonio Netto Franco, sendo logo attribuido (sic) a autoria do crime ao indivíduo Ezequiel de Araujo, o qual, após a prática do crime evadiu-se, segundo ficou apurado nos autos de inquérito policial.
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Tentativa de suicídio
No dia 22 deste mez (sic), quando desta cidade regressavam a Bello Monte, os srs. João Marcello Carriel, Francisco Sampaio, José Luciano, Ataliba Baptista e Manoel Luciano, na estrada a quem de Bello Monte, João Marcello, depois de fazer ver aos seus companheiros que a sua existência não era necessária, sacca (sic) de um revólver, leva-o à altura do ouvido direito e detona-o, cujo projectil (sic) penetrando no conducto (sic) auditivo alli (sic) se acha alojado. O estado de Marcello, si bem que o ferimento seja grave, parece bom.
Foi aberto inquérito sobre o caso, o qual ainda está em andamento.
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Furto de animal
Bertholino Alves, vulgo “Bahianinho”, muito conhecido desordeiro, não só nesta comarca, como na de Bauru e de Agudos, em dia do mez (sic) de dezembro do anno (sic) próximo passado, furtou dos pastos da fazenda de D. Eliza Fernandes, em Timbury, deste município, um burro de cor pello (sic) de rato, vendendo-o a Deoclides de Tal, residente em Ipaussu, para onde foi expedido officio (sic) no sentido de ser o mesmo alli apprehendido (sic).
FONTE: Jornal O PIRAJU de 30 de março de 1926


