Histórias e divagações sobre a mais importante associação esportiva, cultural e “philantrópica” que este município já conheceu

Texto, tiradas e encheção de linguiça básica: Naomi Corcovia/ Contação de lorotas, arquivo e frases de efeito: Théo Motta

Já dizia o antropólogo jeca: “a padaria é o último reduto de resistência política em Piraju”. Embora essa frase date dos anos 90, sua atualidade é inquestionável se levarmos em conta o alto número de negociações de cargo por “amarramento político” dos dias de hoje. A prefeitura virou um imenso balcão de negócios, coisa digna de romance de Jorge Amado, num emaranhado de feitos e mal feitos que atrasam a cidade em mais de 50 anos mas que, por outro lado, inspiram umas linhas suavemente maldosas feito estas – maldosas para quem veste a carapuça, mas divertidas para o grupo que observa.

O ego sensível dos políticos não é páreo para o humor ácido e para a língua afiada do povo. José Maria pode até se sentir levemente incomodado com os atuais frequentadores da padoca da praça – inclusive com o tal de “Krebs” que conseguiu a proeza de ouvir uma conversa BOM-BÁS-TI-CA na presença de um alcaide de uma cidade vizinha fascistóide e ainda serviu de depoente principal e estrelástico na “cê pê” que tentou tomar-lhe o mandato – mas essa coisa de padaria ferveu mesmo nos anos 90:

Eram os tempos áureos (ao menos na ilusão de alguns) de Maurício Pinterich, alvo principal das reuniões de pauta da Associação Esportiva, Social, Ambiental, Cultural, Philantrópica (com ph mesmo) e Fofocal “A Boca Maldita”, sediada na Padaria Florença, mas cujo brasão (uma língua enorme e afiada) foi proibido de ser anexado à placa do estabelecimento pelo administrador do negócio. A associação era composta por uma boa leva de cinquentões da oposição, da comunicação e até mesmo da falta de noção que se reuniam diariamente para colocar as seriedades e futilidades em dia no balcão da padaria. Suas análises políticas, futebolísticas e sociais deixavam qualquer comentarista da globo news no chinelo. O prefeito, é claro, não gostava da turma d’A Boca e volta e meia alfinetava seus integrantes na poderosa “rádia” local.

Certo dia, Pinterich recebeu a chuchuzística visita de Geraldinho, um sujeito branquelo e sem graça que desde aquela época já ocupava a cadeira de governador. Levou-o até a padaria para tomar uns “cafezes” e discutir política e tucanices variadas, sem saber que o aguado visitante tinha uma amizade de velha data nesta Estância: tratava-se do jornalista Ivan Morales, um sujeito que costumava dormir até meio dia aos domingos. O presidente d’A Boca Maldita, que já tinha batido cartão na Florença apesar da pouca hora, ao reconhecer o ilustre acompanhante do prefeito, chegou e mencionou: “governador, seu amigo Ivan Morales, de Pindamonhangaba, mora ali na Rua Treze e certamente adoraria lhe ver”.

O picolé de chuchu fez questão de visitar o amigo de infância radicado em Piraju. Era domingo, muito cedo e Morales dormia feito pedra. Depois de muito insistir na campainha e no “toc toc toc”, o jornalista finalmente despertou, irritado. Atendeu a porta com bafo de onça e de olhos remelentos, vestido d’uma adorável camiseta velha “I LOVE PAULO MALUF”. O mau humor matinal passou rapidamente ao deparar com a familiar cara de nada do seu amigo de Pindamonhangaba: “GERALDINHOOOOO!!!” – testemunhas dizem ser impossível definir qual o sorriso mais amarelo depois do ocorrido, se era o do Alckmin ou do Pinterich.

Fato é que nada escapa aos olhos e à língua dos frequentadores de padaria pirajuenses, que nem mesmo em crise financeira ferrada deixam de ir à padoca: pedem uma água de torneira e lá ficam, filosofando, fofocando e espaventando, com sua simples presença e com sua Boca Maldita, o resto da freguesia.

Os filósofos de padaria são tipo a torta Napoleão: um patrimônio cultural de Piraju.

Um certo prefeito do Tijuco Preto teria dito a um acadêmico que quis cantar de galo nesta Estância: “você tem diploma da USP, mas eu tenho a caneta e quem manda aqui sou eu”. A tais políticos desse pensamento, os membros d’A Boca Maldita e da filosofaria (empresa de filósofos de padoca e botequim) rebatem: “vocês têm a caneta, mas nós temos a língua e quem analisa os fatos aqui somos nós”.

E quem haverá de negar que tais filósofos e “philantropos” não são muito melhores de discurso e de papo que esses politiqueiros trogloditas e esnobes?

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