Foto: Departamento de Cultura de Piraju

Entre uma baforada de cigarro e outra em frente ao antigo Departamento de Cultura na Brasilinha, num calor que beirava os 40 graus, Nico comentava que teria olhos escuríssimos se pudesse escolher. “Tem noção de como é ruim sair no sol sem ‘raibã’?”

Não tenho olhos azuis claríssimos feito ele, então eu não tinha essa noção.

Nico (ou Luiz Antônio de Almeida, para quem não era tão chegado) era dessas figuras boas de papo. Sempre tinha uma história pra contar, uma anedota envolvendo algum figurão local, algum causo de quando foi vereador “nos tempos do Richardão”.

Certa vez, reclamando com ele sobre os malfeitos de um cidadão “de fora” que se alojou na Estância – curva de rio – Nico deu uma bufada e, com sua voz rouca de fumante, comentou: “tinha que botar um ‘Sputnik’ no rabo desse sujeito e fazer ele voltar pra ‘PQP’ de onde veio”. O assunto era sério, mas acabei rindo.

As sessões de queixumes e maldizer sempre acabavam em risadas e descambavam para livros ou para nosso profundo desgosto comum aos escritos de Paulo Coelho – Nico, numa oportunidade, entrou num amigo secreto virtual para trocar literatura brasileira com outros chegados na área e qual foi seu desapontamento quando enviou um Paulo Leminski e recebeu… Paulo Coelho de presente!

Exceto pela literatura paulo-coelhiana, não tinha preconceitos. Jamais fazia piadas sobre minorias e manteve o otimismo em muitos momentos. Perdeu um filho de forma brutal e nunca deu espaço pra amargura. Passado o luto, era o mesmo Nico de sempre, cheio de histórias, de observações críticas e dicas de leitura.

Que a terra lhe seja leve e que sempre seja lembrado durante uma boa leitura – literatura brasileira, de preferência.

 

Durante palestra na Semana do Meio Ambiente de 2012, com Paulo Viggu.

 

 

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